1968 foi o ano em que a ditadura militar, que tomara o poder 4 anos antes, deixou cair a máscara. Até 1968, era uma “ditadura envergonhada”, na definição perfeita do jornalista Elio Gaspari.
A ditadura perdeu a “vergonha” de se assumir como tal nos últimos dias de 1968, com o Ato Institucional número 5, o AI-5. Mas tudo começou em março, no dia 28 daquele mês.
Naquele dia, a Polícia Militar do Rio de Janeiro matou o estudante Edson Luís Lima de Souza, que tinha acabado de completar 18 anos. Motivo alegado: Edson Luís, que era secundarista, participava de uma manifestação de estudantes. Tudo começou pela manhã. Edson viera de Belém, no Pará, para o Rio de Janeiro, para estudar no Instituto Cooperativo de Ensino. De família pobre, ele estudava no ICE, que funcionava no restaurante Calabouço.
Na manhã daquele 28 de março (de 1968, é claro), estudantes organizaram um passeata contra o aumento do preço da comida no restaurante, que passaria a vigorar naquele mesmo dia. Já caía a tarde quando a Polícia Militar dispersou os estudantes que estavam em frente ao local. Em resposta, os estudantes fugiram para dentro do restaurante e começaram a atirar pedras e pedaços de pau nos policiais.
A reação parecia ter dado resultado. Os policiais sumiram da rua. Mas a “paz” durou muito pouco. A PM voltou atirando, disparando a partir de um edifício próximo. Os estudantes fugiram e como a Embaixada dos Estados Unidos ficava próxima ao local, os policiais deduziram que haveria uma tentativa de invasão à representação americana.
Foi um trágico engano. Para prevenir a suposta invasão à Embaixada, a PM invadiu o Restaurante Calabouço. Na invasão, o comandante da tropa Aloísio Raposo atirou à queima-roupa no estudante Edson Luís,que morreu na hora baleado no peito.
Mais ainda, Benedito Frazão Dutra também foi baleado e morreu logo depois, em um hospital próximo.
Em protesto, e temendo que a PM sumisse com o corpo de Edson Luís, os estudantes levaram o corpo para a Assembleia Legislativa. O velório continuou e o enterro só aconteceu no dia 2 de abril, na Igreja da Candelária. Nesse período aconteceram vários protestos em todo o País.
Edson Luís foi enterrado ao som do Hino Nacional, cantado pela multidão que compareceu à cerimônia. Os protestos aconteceram por todos os lados. Os cinemas da Cinelândia amanhaceram no dia do enterro com três filmes anunciados em cartaz: “A Noite dos Generais”; “À queima-roupa” e “Coração de Luto”.
Dois dias depois, outra missa na Candelária foi realizada sob tensão. Do lado de fora da igreja, policiais esperavam pelos participantes e usaram a violência quando a cerimônia terminou e quem estava assistindo à missa foi para as ruas.
Foi um prenúncio do que estava por vir em 1968 no Brasil. O futuro não era dos mais promissores...
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