Como era
de se esperar, o Tropicalismo apareceu para o Brasil em 1968, o ano diferente.
Começou pela música, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e muitos
mais.
era algo totalmente novo, mas também privilegiava
o antigo. Em 1967 as músicas "Domingo no Parque", de Gil, e
"Alegria, Alegria", de Caetano, mostraram no festival de música
popular de TV Record um tipo de música diferente, em meio a uma disputa entre a
música "engajada", de "esquerda", que protestava contra o
regime militar e seus efeitos, e canções "despojadas", da Jovem
Guarda, com Roberto e Erasmo Carlos.
As
canções de Caetano e de Gil eram completamente diferentes dessas outras duas
"escolas" musicais. Não eram "políticas" no sentido
tradicional, de protesto, nem "ingênuas", de amores adolescentes,
como a Jovem Guarda. A "nova" música, com Caetano e Gil à frente,
tinha uma poesia diferente, de fragmentos, e uma música também diferente,
brasileira mas com "ousadias" para a época, como o uso de guitarras
elétricas.
Essa
nova música, bela e estranha para a época, lançou o Tropicalismo, que ganharia
o País em 1968, principalmente com o disco "Tropicália", que reuniu
vários compositores e cantores, de Caetano e Gil a até a então desconhecida Gal
Costa, passando pelo maestro Rogério Duprat.
Nunca
se tinha visto nada igual, nem algo tão novo na música. Além da inovação, eram
resgatadas músicas consideradas de "mau gosto", como "Coração de
Mãe", sucesso anos antes na voz de Vicente Celestino, então considerado um
cantor "brega". Era uma mistura de baião, rock, bolero, bossa nova...
A
Tropicália era tudo e não era nada. Evitava rótulos. E os discos mais
conhecidos do "movimento" foram sendo lançados com sucesso em 1968
como "Louvação", de Gil, e "Caetano Veloso".
Choveram
críticas, dos todos os lados. Mas a Tropicália veio para ficar. Partindo da
música, influenciou o cinema, o teatro, as artes plásticas.
Em
1968, para variar...
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Letra da canção Tropicália
Sobre a cabeça os aviões
Sob os
meus pés os caminhões
Aponta
contra os chapadões
Meu
nariz
Eu
organizo o movimento
Eu
oriento o carnaval
Eu
inauguro o monumento
No
planalto central do país
Viva a
Bossa, sa, sa
Viva a
Palhoça, ça, ça, ça, ça
Viva a
Bossa, sa, sa
Viva a
Palhoça, ça, ça, ça, ça
O
monumento
É de
papel crepom e prata
Os
olhos verdes da mulata
A
cabeleira esconde
Atrás
da verde mata
O luar
do sertão
O
monumento não tem porta
A
entrada é uma rua antiga
Estreita
e torta
E no
joelho uma criança
Sorridente,
feia e morta
Estende
a mão
Viva a
mata, ta, ta
Viva a
mulata, ta, ta, ta, ta
Viva a
mata, ta, ta
Viva a
mulata, ta, ta, ta, ta
No
pátio interno há uma piscina
Com
água azul de Amaralina
Coqueiro,
brisa e fala nordestina
E
faróis
Na mão
direita tem uma roseira
Autenticando
eterna primavera
E no
jardim os urubus passeiam
A tarde
inteira entre os girassóis
Viva
Maria, ia, ia
Viva a
Bahia, ia, ia, ia, ia
Viva
Maria, ia, ia
Viva a
Bahia, ia, ia, ia, ia
No
pulso esquerdo o bang-bang
Em suas
veias corre
Muito
pouco sangue
Mas seu
coração
Balança
um samba de tamborim
Emite
acordes dissonantes
Pelos
cinco mil alto-falantes
Senhoras
e senhores
Ele põe
os olhos grandes
Sobre
mim
Viva
Iracema, ma, ma
Viva
Ipanema, ma, ma, ma, ma
Viva
Iracema, ma, ma
Viva
Ipanema, ma, ma, ma, ma
Domingo
é o fino-da-bossa
Segunda-feira
está na fossa
Terça-feira
vai à roça
Porém...
O
monumento é bem moderno
Não
disse nada do modelo
Do meu
terno
Que
tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Que
tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Viva a
banda, da, da
Carmem
Miranda, da, da, da, da
Viva a
banda, da, da
Carmem
Miranda, da, da, da, da