Nem o Festival de Cannes, o mais famoso evento de cinema do mundo, escapou de 1968. Naquele ano, embora tenha sido iniciado, o festival simplesmente não acabou.
Realizado em maio de 1968, mês em que Paris fervilhava com dezenas de manifestações, o festival já começou tumultuado. Desde o início do ano cineastas e estudantes de cinema estavam mobilizados, discutindo e criticando os filmes que se faziam na França, considerados excessivamente conservadores. Quando o Festival de Cannes começou, esse clima de protesto estava presente -- e como!
No primeiro (e último) dia do festival, estava programada a exibição de um filme do diretor espanhol Carlos Saura. A 21a. edição do festival começaria, assim, com a exibição de um filme de cineasta que também aderira à onda de protestos. Mas não foi suficiente: mal começou a sessão, um grupo de cineastas, com Jean-Luc Godard à frente, subiu ao palco, as cortinas foram fechadas e a exibição, interrompida.
O tumulto se instaurou. O diretor do festival tentou contornar a situação, mas foi em vão. Até Carlos Saura manifestou-se na sala de exibição a favor da interrupção. Em vez de assistir ao filme, passou-se então a debater cinema, França, opressão, conservadorismo, liberdade... Os debates fervilhavam entre os cineastas. Quatro pessoas que faziam parte do júri renunciaram. O festival parou. Para nunca ser retomado.
Parecia ser o fim do Festival de Cannes. Mas não -- em 1969 ele foi retomado, com a particpação de filmes que refletiam o clima de protesto de 1968, como "Easy Rider", "If", "Z" e o brasileiro "Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha.
O maior festival mundial do cinema simplesmente foi suspenso (na marra) em 1968. Mas não é de se estranhar...
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