domingo, 4 de novembro de 2012

A Censura à Imprensa já começa sendo enganada. Em 1968!



O AI-5, que instaurou oficialmente a ditadura militar no Brasil em 13 de dezembro de 1968, foi o início de uma longa noite de violência e repressão (conforme visto em post anterior neste blog).

Entre as muitas "mágicas" do AI-5 figurou a censura férrea à imprensa. Todos os principais jornais do Brasil passaram a ser censurados, assim como outros meios de comunicação como rádio e TV.

Esse ato de violência ajudou, no entanto, a incentivar uma onda de criatividade na Imprensa escrita, na tentativa de driblar a censura. E essa onda começou já no dia 14 de dezembro, quando os jornais anunciaram o AI-5. Naquele dia, o "Jornal do Brasil", editado no Rio de Janeiro e um dos mais influentes da época, mostrou de maneira clara que a censura não teria dias fáceis.

A manchete do jornal, que foi às bancas censuradíssimo, anunciava as medidas de exceção (que se tornaram regra) anunciadas pelo governo na época. Mas a criatividade ficou clara nas poucas linhas da primeira página.


Primeiro, o canto superior direito da capa do JB mostrava: "Ontem foi o dia dos cegos".

Além disso, no canto superior esquerdo, a tradicional previsão do tempo tinha um texto, digamos, pouco usual, que dizia:

"Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máxima de 38 graus no Brasília e mínima de 5 graus nas Laranjeiras". Cabe esclarecer que Laranjeiras é o bairro do Rio em que ficava um dos palácios do governo, e no qual houve a reunião que decidiu pelo Ato Institucional e o anúncio do AI-5.

Apesar da obviedade de que não se tratava de uma "previsão do tempo" nos moldes tradicionais, a censura não "captou" a mensagem embutida no texto.

O jornal foi para as bancas no primeiro dia de censura com uma crítica ao AI-5 que passou ilesa pelos censores.

Ou seja, a censura foi driblada logo no primeiro dia em que se impôs, mostrando que seria férrea mas não lá muito inteligente.

Tudo isso em 1968, como seria de se imaginar!

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